"Mais adiante havia o depósito de garrafas, o caixote de madeira, o livro apodrecido de contadoria, um pano sujo e de novo a laranja. O olhar não era descritivo, eram descritivas as posições das coisas.
Não, o que estava no quintal não era ornamento. Alguma coisa desconhecida tomara por um instante a forma desta posição. tudo isso constituía o sistema de defesa da cidade.
As coisas pareciam só desejar: aparecer - e nada mais. 'Eu vejo' - era apenas o que sepodia dizer. (...)
Estava olhando as coisas que não se podem dizer. (...)
Mesmo o erro era uma descoberta. Errar fazia-a encontrar a outra face dos objetos e tocar-lhes o lado empoeirado. (...)
Faltava a parte mais difícil da casa: a sala de visitas, praça de armas.
Onde cada coisa esperta existia como para que outras não fossem vistas? tal o grande sistema de defesa. (...)
As coisas eram difíceis porque, se se explicassem, não teriam passado de incompreensíveis a compreensíveis, mas de uma natureza a outra. Somente o olhar não as alterava."
A Cidade Sitiada. Clarice Lispector
Na quadrada das águas perdidas e nas veredas digitais: "O senhor ponha-me ponto."(com/org/edu...)
quinta-feira, 6 de março de 2008
as posições das coisas
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Um comentário:
"não compreender os outros é que é certo".
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