Festa muito bonita. "Mel de melhor".
Acrescentei algumas pequenas coisas.
"A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação - porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada." (Guimarães Rosa)
Discurso da formatura dos alunos de Turismo, Jornalismo, RTV, Publicidade e Relações Públicas da Casper - 2007.
"Boa noite a todos, Srª Diretora, coordenadores, secretário,professores, funcionários, formandos e seus convidados.
Agradeço, em nome dos professores da Coordenadoria de Cultura a escolha de um dos seus para estar aqui, hoje.
Sei que acabamos por cumprir o papel de desmancha prazeres (ao submetê-los a uma série de exigências e reflexões sobre o conhecimento da sociedade em que vivemos e o papel que a comunicação tem nela).
Mas devemos sempre colocar o consumo, a comunicação, os modos de vida que estruturam nosso mundo, sob perspectiva. Nossas viagens pelo “vasto mundo” (drummondiais), também, não escapam disso.
O consumo e as trocas - em suas mais variadas formas - são boas, antes de mais nada, para pensar (Lira inspirado por Canclini, inspirado por Mary Douglas, inspirada por Levi-Strauss - enfim, quase um poema de Drummond ou uma dialogia clara de Bakhtin)
Os modos e meios de produção e consumo são valores de uma sociedade. E que tipo de sociedade queremos? Eles não deveriam traduzir, de alguma forma, um desejo na sempre incompleta luta pela justiça social e pela cidadania, contra as mais variadas misérias do mundo?
Levemos essas coisas a sério.
Como disse: as disciplinas de Cultura e Comunicação, têm um papel de desmancha prazeres. Mas... o contato com vocês, hoje, jovens profissionais, também mostra que podemos ser, de vários modos e formas, cúmplices de utopias.
E todos devemos lembrar que “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”
Pessoalmente, “me alegrei de estrelas” ao saber da indicação para patrono. “Digo ao senhor: minha satisfação não teve beiras.”
Penso representar, simbolicamente, todos os professores e, particularmente, aqueles que também foram indicados, como eu, a patrono.
Cada um deles disse ou vai dizer muitas coisas ainda a vocês, pois, na verdade, é sempre o presente que faz falar o passado. O tempo da descoberta e do encontro com o que foi dito e vivido não acaba.
É sobre a vida, a memória e a narração, sobre o contar, que quero concentrar meu pequeno discurso.
Desde o começo estou com um companheiro, nessa viagem: o personagem Riobaldo de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. É deles que empresto muitas das expressões e pensamentos aqui presentes. E os dedico a vocês.
Quisera deixar-me em silêncio, minha maior homenagem: “O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais”
Não quero abrir, aqui, um “saquinho de relíquias” das nossas experiências em sala de aula (na qual minha entrega foi total, com os possíveis problemas que isso traz), nos corredores, Jucas etc.
Elas serão sempre recompostas e remexidas na memória. Novas combinações e enredos aparecerão. Muitos roteiros e com certeza, muitas rotinas, estarão com vocês.
Nisso tudo, posso lembrar, também, o poeta tropicalista Wally Salomão: “a memória é uma ilha de edição”.
Sei que todos, aqui presentes, viveram e viram a trajetória desses jovens - sob algum ângulo ou aspecto muito particular - e que todos teriam muitas histórias para contar.
Mas... narrar... essa travessia pela vida, pela Casper, é falar de um “descuido prosseguido”, de “um mutirão de todos”, de “um vago variado”. É falar das Veredas, de um “Sertão”.
E o Sertão é sem lugar.
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza!”
Deixemos acontecer nossas novas edições, como brinca Brás Cubas, personagem de Machado de Assis.
Com certeza, edições revistas e ampliadas...
censuradas (algumas vezes)...
pois a vida e “cheia de passagens emendadas”. E qualquer narração do que foi o extenso do vivido na Casper, escapole da memória.
“Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas – de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. (...) São tantas horas de pessoas, tantas coisas em tanto tempo, tudo miúdo recruzado.”
“A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento. (...) Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância.”
Por isso, penei para escrever este discurso, pois não tinha o alinhavado das histórias de tantas horas de gente.
Bem...
“Despedir dá febre!”
E ”O senhor me ponha ponto!”
Agradeço a mão de Guimarães Rosa.
E lembro que uma obra que inicia com a palavra Veredas, termina com a palavra Travessia.
Se Wally Salomão está certo em dizer que a memória é, no fundo, uma ilha de edição, quero deixar como sugestão uma de suas trilhas.
Estou falando de um compositor que sonha com uma pausa de mil compassos, um poeta do tempo, um revolucionário do samba: Paulinho da Viola.
A música?
Cantando
(Paulinho da Viola)
Lembra daquele tempo
Quando não existia maldade entre nós
Risos, assuntos de vento
Pequenos poemas que foram perdidos momentos depois
Hoje sabemos do sofrimento
Tendo no rosto, no peito e nas mãos umas dor conhecida
Vivemos, estamos vivendo
Lutando pra justificar nossas vidas
Cantando
Um novo sentido, uma nova alegria
Se foi desespero hoje é sabedoria
Se foi fingimento hoje é sinceridade
Lutando
Que não há sentido de outra maneira
Uma vida não é brincadeira
E só desse jeito é a felicidade
2 comentários:
pena que eu não estava lá. linhas, ou melhor, frases de beleza rasgada, lira.
Olá, Prof. Lira.
Tudo bem?
Eu estava na formatura e adorei o teu discurso. Na verdade, me matei de chorar com tuas palavras. Senti-me novamente na sala do primeiro ano da faculdade, assistindo tua aula de Sociologia e isto me emocionou muito!
Então, só posso te agradecer. MUITO OBRIGADA por tornar a minha vida muito mais emocionante com teu discurso e saiba que foi MUITO tê-lo na minha colação... Foi muito lindo mesmo e, com certeza, um belo momento para guardar com muito carinho!
Espero que nossos caminhos voltem a se cruzar por este MUNDÃO.
Beijos
Izabelle Prado
(Antigo JoA!)
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