quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O Nordeste é uma "ficção"...

Passei a tarde no trânsito, ouvindo essa música. Fiquei pensando como o "espírito do tempo" que a inspirou parece ter mudado. Como o "campo" da MPB estava ligado a um certo modo de sentir o mundo e os problemas da nossa identidade nacional e "regional". A imagem do nordestino e a sua representação na música sofreram uma mudança radical. Os grandes fluxos migratórios (ver "Carcará" de João do Vale, na peça "Opinião") diminuiram e um grande trabalho simbólico foi produzido sobre as representações do Nordeste. Sem nostalgia!

Conheço o Meu Lugar (Belchior)

O que é que pode fazer o homem comum
neste presente instante senão sangrar?
Tentar inaugurar a vida comovida,
inteiramente livre e triunfante?
O que é que eu posso fazer com a minha
juventude - quando a máxima saúde hoje
é pretender usar a voz?
O que é que eu posso fazer - um simples
cantador das coisas do porão? (Deus fez
os cães da rua pra morder vocês que sob a
luz da lua, os tratam como gente - é
claro! - a pontapés.)
Era uma vez um homem e seu tempo...
(Botas de sangue nas roupas de Lorca).
Olho de frente a cara do presente e sei
que vou ouvir a mesma história porca.
Não há motivo para festa: ora esta!
Eu não sei rir a toa!
Fique você com a mente positiva que eu
quero a voz ativa (ela é que é uma boa!)
pois sou uma pessoa.
Esta é minha canoa: eu nela embarco.
Eu sou pessoa!
(A palavra "PESSOA" hoje não soa bem -
pouco me importa!)
Não! Você não me impediu de ser feliz!
Nunca jamais bateu a porta em meu nariz!
Ninguém é gente!
Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve!
Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!
Não sou da nação dos condenados!
Não sou do sertão dos ofendidos!
Você sabe bem:
Conheço o meu lugaaaaaaaaaaaaar!

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